Disputa acirrada
Era um domingo ensolarado, da década de 70, o Brasil tinha acabado de conquistar o Tri da Copa do Mundo, no México e o país transpirava futebol. Em cada canto do solo brasileiro um campo de várzea e a moda era se inspirar nos craques: Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza, Everaldo; Clodoaldo, Gérson; Tostão, Jairzinho, Rivelino e Pelé.
Em Penha não era diferente. No campo do Seu Quinca, localizado a beira da então não pavimentada rua Nereu Ramos, hoje Avenida, e a Variante (atualmente a SC-414/Rodovia Paulo Stuart Wright), um clássico: Estrela do Sul x Ipyranga. Em disputa: a Taça Independência.
Os dois times escalados, prontos e perfilados para pisar no gramado. A equipe da casa, o Estrela do Sul, com seu uniforme tradicional, de calções brancos, meias azuis, camisas brancas com uma faixa azul na diagonal (meio que imitando o Vasco da Gama). O adversário: o Ipyranga, do Centro da cidade, de verde e amarelo, com camisas listradas.
Pelo Estrela entram em campo os irmãos Vieira, filhos do Quinca: Gerinho, Nilton, Joaquim, Jaime e o craque Osni; além de Udinho Figueredo, Osório, Bonifácio, Silvio do Canuto, Ví, Hermes.... Pelo Ipyranga, se aquecem: Luiz do Calixto, Jaime, Boião, Vé, Ludinho, Nêgo, Bilt, Ciquinha, Dorival, Boião, Biota...
As torcidas dos dois times se ajeitam ao redor do gramado. Uns sentados na grama, nos barrancos, outros trepados em goiabeiras e até em carroceria de caminhões. Foguetada, muito barulho. As equipes entram em campo. Alguns atletas pisam com pé direito no tapete verde, outros fazem o sinal da cruz. Cada um com sua crença, ou superstição. O jogo promete. Se der empate no tempo normal a disputa da taça será nos pênaltis.
A bola rolou. Lindas jogadas. Grandes furadas. Faltas, tombos, gritos, vaias, defesas, ataques, cabeceios, bolas nas traves. Gritos, xingamentos, “elogios” aos familiares do Fanga (árbitro da partida). Jogo acirrado, nervos à flor da pele. A bola ia sendo, acariciada e outras vezes maltratada.
Um trio pra lá de esperto
Meia hora antes de iniciar o jogo, há cerca de dois quilômetros do local da grande decisão, o Zequinha do Canuto, o Niço da Mí e o Má da Ivone se empoleiraram em uma bicicleta da moda, a Copa 70, que tinha um círculo no meio do quadro e foram em disparada, para o campo, driblando as pedras e os buracos do caminho.
Os três, com idades que não passavam dos 12 anos, seguem “voando” para o campo do Seu Quinca, onde nos dias de hoje é o Portal Turístico da entrada da cidade de Penha. O palco de grandes clássicos, com o tempo cedeu espaço para inúmeras residências e edificações comerciais.
Estrategicamente eles escondem a bicicleta no mato e se posicionam atrás da trave do lado leste do “estádio” do confronto decisivo, à beira da Nereu Ramos com a lagoa e do rio Piçarras.
O trio teria muito trabalho. A função? Seriam gandulas voluntários. É claro, para depois receberem uma recompensa no final da partida do Seu Quinca. Como forma de pagamento: um litrão de gasosão de framboesa ou de guaraná, que estava sendo cuidadosamente gelado em um bar improvisado coberto com lona e cercado de bambus, à beira do campo.
Chutão decisivo
Depois de uma disputa muito acirrada, um empate em 2x2 nos 90 minutos. Não teve prorrogação. O Fanga apita aponta para o meio de campo e se encerra a briga pelo título com bola rolando. A decisão vai para as penalidades. Agora a escolha da trave onde seriam cobrados os pênaltis? Suspense. Ah! A alegria foi do Zequinha, Niço e do Má. A trave que tinha ao seu fundo a lagoa foi a escolhida. O trio pula de euforia. Claro, se os chutes fossem pra fora, seria a vez deles.
Após 9 cobranças: no placar 5x4 para o time da casa. Então um zagueirão do Ipyranga, pega a pelota, bota na marca da cal, olha para a trave, olha a posição do goleiro, respira, toma distância, mira e chuta com força. O goleirão do Estrela apenas olhou a bola subir, subir, subir... para depois cair na lagoa. Foi um chutão que nem passou perto da meta. Festa pra uns e decepção para outros. O Estrela é o dono da Taça. Gritos de é campeão!!!
Rapidamente o Má sai correndo, se joga nas então águas límpidas da lagoa, dá duas, três, quatro braçadas, alcança e agarra a bola de couro de gomos costurados. Depois, ofegante, ele entrega a bola molhada ao Seu Quinca.
Gentilmente e, feliz vida, o Seu Quinca “paga” o “trabalho” do trio com o refrigerante tão esperado. De sobra, os três ainda ganharam um pacote das bolachas mata-fome e se empapuçaram felizes da vida. Uma certeza pro trio: o chutão do zagueirão salvou o dia e alimentou sonhos e esperanças.
O "Quinca Ludo"
Joaquim Ludgero Vieira, era um próspero comerciante da então localidade conhecida como Parada, localizada no norte da Praia Alegre e na divisa de Penha com Balneário Piçarras. Além de ser entusiasta pelo futebol, mantendo o seu campo com a grama bem aparada e um bom elenco no seu Estrela do Sul, ele tinha um salão de baile nas proximidades, onde promovia as famosas domingueiras, bailes e até gritos de carnaval. O local sempre foi festivo e referência de bons eventos na região.
Casado com Maria Telles Vieira, a Dona Mariquinha, Joaquim (Quinca) Ludgero (Ludo), foi pai de 13 filhos, sendo 3 natimortos. Todos cresceram e se criaram ao redor da lagoa que hoje leva seu nome. Os irmãos Vieira foram batizados de: Osni, Joaquim, Nilton, Jaime, Gerinho e as filhas; Nilda, Darci, Eduarda, Marcelita e Neli. Vale lembrar, que todos jogavam futebol, inclusive as mulheres.
Nascido em 14 de outubro de 1903, faleceu em 1º de março de 1990, aos 86 anos. Em sua homenagem a lagoa foi batizada de Quinca Ludo e também o estádio Municipal de futebol de Balneário Piçarras, no bairro Nossa Senhora da Paz.
Hora de catar tarioba e berbigão
A maré baixou no rio Piçarras, na década de 60. Formou-se uma coroa. Hora e dia da Nilda, Neli e Eduarda, as meninas Vieira, correrem para lá e catarem tarioba ou taioba (molusco bivalve que habita as areias próximas a manguezais também conhecido como “marisco lambão”) e berbigão (também conhecido como marisco-da-areia).
Após encherem os samburás dos moluscos, elas correm pra casa, cozinham e saboreiam as especiarias acompanhadas de um pirão de farinha de mandioca ou arroz.
“Tempos bons aqueles. A lagoa era o nosso supermercado”, lembra Nilda Vieira com um sorriso no rosto e olhar demonstrando saudade.
“A água da lagoa era tão transparente que nós víamos os siris correndo para se esconder da gente. Tinha muito camarão e manjubinhas. Hoje não dá nem vontade de ver a situação que nossa lagoa está. É triste em ver o ser humano degradando o meio ambiente”, desabafa Neli Vieira.
O mangue virou concreto
Na década de 60 a lagoa e o mangue começam a virar concreto. Diversos aterros clandestinos foram feitos na época por pressão de pescadores e principalmente pela especulação imobiliária e, na década de 70, intensas obras ocorreram na foz do rio visando à fixação da mesma, mudando curso das águas, a barra e o canal do rio Piçarras de lugar.
Os aterros e as edificações resultaram em um grande impacto no sistema lagunar, que sucumbiu. As lagunas localizadas no município de Balneário Piçarras perderam completamente a ligação com o rio e assorearam. As áreas foram ocupadas e a construção civil emergiu no local. Camping, marinas e loteamentos floresceram na cidade vizinha. Restou apenas um sistema lagunar minúsculo comparada ao que era antes, no município de Penha, à margem direita da foz do rio Piçarras.
O que restou
A lagoa do Quinca Ludo hoje possui apenas uma área aproximada de 2,6 ha, dos quais 0,8 ha são corpo d’água e 1,8 ha de porção terrestre. Ela localiza-se nas coordenadas médias de latitude 26º 46’ 20.17“S e de longitude 48° 39’ 40.61” W de Greenwich, no noroeste (NO) do município de Penha. É delimitada a oeste pela foz do rio Piçarras na Rua do Molhe, a nordeste pela praia Alegre, em Penha, a leste pela rua Arno Vitorino, a sudeste pela rua Abraão João Francisco e ao sul pela avenida Nereu Ramos.
Respiram e beliscam na Quinca Ludo
Florescem na lagoa, a aroeira, araticum-do-brejo, jerivá, caúna, barba-de-velho, bromélias, pau cigarra, embaúba, mangue-do-mato, mangue-branco, vassourinha, alecrim do campo, tiririca e outros vegetais comuns da floresta atlântica e restinga.
Beliscam seus alimentos na Quinca: biguás, atobás, garças-branca, socozinhos, savacus, gaviões, aracuãs, jacupembas, três-potes, saracuras, quero-queros, gaivotas, trinta-réis, rolinhas, pomba-galegas, anus, corujas, martim-pescador-grande, pica-paus e Joãos de barro, sabiás e tantas outras aves da região costeira.
Também habitam o local: gambá-de-orelha branca, rato d`água, preá, ratazana, rato silvestre e lontra. Além de caranguejo uçá, chama maré ou violinista, aratu ou caranguejo vermelho.
O estuário da Quinca Ludo serve como ponto de reprodução de espécies marinhas, como camarões, robalos, tainhotas, siris, carapebas, linguados e outros pequenos peixes.
Lagoa entubada
A água da lagoa é salobra. Ela tem comunicação com o rio Piçarras através de tubos, somente com a maré alta. Mas, também é através de tubos que ela recebe dejetos de inúmeras moradias e de estabelecimentos comerciais da Praia Alegre.
Segundo o engenheiro sanitarista da prefeitura de Penha, Everaldo Moares dos Santos, cerca de 2/3 das águas pluviais da região da Praia Alegre desaguam diretamente na lagoa. Antes do aterramento e a fixação do canal da barra do rio Piçarras as águas da chuva iam direto para o rio.
A conexão da lagoa com o rio era direta. O aterramento e as as obras no rio, restringiu a circulação de água, resultando em uma estrada, que também serve de estacionamento para turistas e pescadores que utilizam a margem do rio como atracadouro de embarcações pesqueiras e turísticas.
“Uma das opções para evitar que as águas pluviais desaguem na lagoa é instalar uma nova tubulação, em torno da rua Arno Volpi. Assim o escoamento seria direto no rio Piçarras. Certamente, o acúmulo de sedimento irá diminuir consideravelmente”, explica Moraes.
Estudo/TCC
De acordo com o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) de 2007, da bacharelanda, Maria Laura Fontelles Ternes, do Curso de Ciências Biológicas, do Centro de Ciências Tecnológicas, da Terra e do Mar, da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), em seu estudo ambiental da Laguna Quinca Ludo, o local necessitava da atenção dos órgãos competentes, pois na época já estava em total abandono.
Já havia o interesse de Organizações Não Governamentais e instituições (Associação dos Moradores Praia Alegre, Fundação Praia Vermelha de Conservação da Natureza, Associação dos Municípios da Foz do Rio Itajaí – AMFRI e UNIVALI campus Penha) em tornar o local em objeto de conservação.
Em seu estudo, Maria Laura, listou que entre as principais ameaças ao estuário estão: facilidade de acesso, resíduos sólidos, lançamento de esgoto e águas pluviais, expansão urbana, ocupação dentro da área, fragmentação, contaminação biológica, abertura de trilhas e clareiras, uso desordenado no entorno; atos inadequados e proibidos, como abrigo de andarilhos e presença de cachorros.
Cartão Postal
A Doutora em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná, Rosemeri Carvalho Marenzi, em pesquisa realizada em 1996, a respeito de preferências paisagísticas da comunidade resultou que paisagens contendo naturalidades, complexidades topográficas e diversidade de elementos são as que apresentam maior preferência humana para contemplação.
Quanto ao potencial paisagístico e de lazer existente na área de estudo, a lagoa do Quinca Ludo sendo uma delas, Rosemeri verificou que o local sustenta atributos cênicos, os quais sendo alvo de conservação, podem propiciar bem estar e saúde mental aos visitantes da área e recursos econômicos através de atividades como ecoturismo, gerando empregos para a comunidade e incentivos indiretos ao comércio da região.
“Pelo fato de a lagoa estar localizada a frente ao portal de entrada do município, esta área poderia vir a ser mais um “cartão-postal” de Penha, desde que medidas de conservação sejam tomadas”, observa Rosemeri Carvalho Marenzi.
Um abraço na lagoa
Liderada pela moradora Margit Koblitz, a AMAPRA (Associação de Moradores e Amigos da Praia Alegre) já promoveu 9 mutirões de limpeza no local e os resultados foram assustadores. As ações visando a conservação do meio ambiente envolveu voluntários, desde moradores, grupo de escoteiros Baden Powel, técnicos ambientais da Unidade de Estabilização de Animais Marinhos da Univali – Unidade Penha, com apresentação do Projeto de Monitoramento das Praias da Bacia de Santos (PMP-BS).
“Na primeira edição do mutirão foram recolhidos inúmeros sacos de lixo de 200 litros, que encheram três caçambas de tratores da prefeitura. Depois foi diminuindo de 40 a 20 sacos. Vale acrescentar que os sacos foram doados pela concessionária Águas de Penha”, aponta Margit.
A presidente enfatiza que a ação dos mutirões tem também o objetivo de conscientizar o Poder Público, comunidade e iniciativa privada da importância da preservação do local e a criação de um parque urbano no local.
A presidente da AMAPRA alerta que a Lagoa do Quinca Ludo é Área de Preservação Permanente, mas muitas pessoas usam o local para descartar lixos e entulhos.
Já foram recolhidos do local, espuma de enchimento para colchões, roupas íntimas, tecidos rasgados, embalagem de alimentos, papel higiênico usado, dejetos orgânicos humanos, preservativos, garrafas de vidros, cacos de vidros, garrafas plásticas, latinhas de cervejas e refrigerantes, bitucas de cigarros, cachimbos para de uso de entorpecentes, isopor, resto de redes de pesca...
“Iniciamos os mutirões em 2019. O 10°, deve acontecer entre dezembro e janeiro para incluir crianças com supervisão de adultos. A educação ambiental deve começar por elas, as crianças. Por isso, além do recolhimento do lixo, são ministradas palestras de conscientização ambiental. Uns dos objetivos da associação é lutar para que a lagoa se torne um cartão de visitas da cidade”, finaliza Margit.
Moradia indesejada
Ao redor da lagoa em sua vegetação inúmeros atos proibidos são registrados como aberturas de trilhas e clareiras, fogueiras acesas em vários pontos, representando risco de incêndio. Andarilhos e moradores de rua se escondem e alojam-se temporariamente, pernoitando entre a vegetação e deixam vestígios e resíduos que contribuem com a degradação da paisagem e da estrutura do ambiente, além barracas e acampamentos são comuns na temporada de verão. Há também uma residência de madeira dentro da área da lagoa, que se encontra em uma clareira de frente ao mar.
Proibido pescar
No início dos anos 80, Antônio Carlos da Silva, o Toinho do Noca, com aproximadamente 15 anos, costumava tarrafear na lagoa e foram poucas as vezes que voltou pra casa de samburá vazio. “Eu ia com minha tarrafinha miudeira de poucas braças. Siris, camarões, tainhotas, robalos, paratis eram um prato cheio pra nossa família numerosa. Cheguei até a pegar tainhas ovadas lá”, lembra Toinho.
Hoje beirando os 60 anos, Toinho diz que fica triste em ver a situação deplorável da lagoa. “A lagoa está contaminada. Ela recebe muito dejeto. O fundo dela é só lama. Caso alguém pise no fundo pode correr pra casa e tomar umas duas de banho para não ficar doente. Mesmo que pudesse pescar, quem seria o louco de comer peixes ou camarões dali. Uma pena”, adverte e desabafa Toinho.
No local tinha uma placa de advertência à beira da lagoa, mas vândalos destruíram. A Amapra está providenciando novas sinalizações de que a Lagoa do Quinca Ludo é área de preservação.
Parque Natural
No Mapa do Macrozoneamento do Plano Diretor Municipal de Penha, a Lagoa do Quinca Ludo é demarcada como uma Zona Especial de Conservação Ambiental, segundo Lei Complementar nº 002/2007.
A Zona especial reúne os parques municipais e unidades de conservação do município, estabelecendo condições diferenciadas de uso e ocupação. Também tem como objetivos, orientar os parâmetros e as políticas públicas no sentido de criar unidades de conservação visando preservar o patrimônio socioambiental existente e estabelecer critérios mais restritivos para o uso e ocupação do solo. Além de incentivar a criação de Reservas Particulares de Proteção Natural (RPPNs).
Já o Plano de Gestão Socioambiental de Penha compreende a preservação e recuperação da paisagem natural e dos bens socioambientais e deverá definir políticas para integração e utilização sustentável das áreas verdes e da paisagem; definir mecanismos de incentivo e compensação para a conservação, restauração e recomposição da biodiversidade municipal e regional, especialmente pela criação de RPPNs; e criar os parques municipais do Rio Gravatá, da Praia da Paciência, do Iriri, da Lagoa Quinca Ludo e da Ilha Feia.
O Plano Diretor de Penha cita a Lagoa Quinca Ludo como área prioritária à conservação no município, propondo a implementação de uma UC (Unidade de Conservação) na área tendo como proposta o “Parque Municipal da Lagoa Quinca Ludo”.
De acordo com o Plano Diretor, o local é estabelecido na macrozona como APP, com a observação de “restrição de uso”. Apesar de que APP sugere o não uso, o Plano almeja a implantação de um Parque, e no caso necessitará de infraestrutura básica necessária para atender os objetivos.
A Resolução 03/2002 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) estabelece a possibilidade de uso de APP em casos de utilidade pública, que se constata no caso da Lagoa do Quinca Ludo.
Apesar de constar como UC no Plano Diretor do município, segundo a Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Penha, não há nenhum projeto de revitalização do local em andamento.
Trata Brasil
Segundo o Instituto Trata Brasil, o saneamento básico é um direito garantido pela Constituição, e uma ferramenta estratégica essencial para o desenvolvimento da qualidade de vida no País. Mas além de ser essencial para a saúde das pessoas, o saneamento é vital para a sustentabilidade dos rios, lagoas, que hoje sofrem com toneladas de dejetos despejados em suas águas todos os dias.
A falta de saneamento básico afeta a saúde e as perspectivas de desenvolvimento de milhões de brasileiros. Sem falar que o acesso a este serviço é um direito garantido pela Constituição.
O instituto lembra em suas publicações, que obras de saneamento não aparecem. Mas este trabalho que fica embaixo da terra muda muito a vida das pessoas que vivem em cima dela. Por isso, a oferta de serviços de saneamento está diretamente ligada ao desenvolvimento de um país. Saneamento reduz a mortalidade infantil, melhora as condições de educação, incentiva o turismo, valoriza imóveis, aumenta a renda dos trabalhadores e despolui os nossos rios.
De acordo o Ministério da Saúde (DATASUS 2022), só em 2022 o Brasil registrou quase 191 mil internações provocadas pelas chamadas doenças de veiculações hídricas, causadas por contaminações na água. Este número alarmante revela o quanto a falta de saneamento prejudica a vida no País, fazendo com que milhões de brasileiros sejam obrigados a viver sem água potável.
O Trata Brasil alerta, que é hora de dar a este assunto a importância que ele merece. E de fazer o Brasil perceber que saneamento é básico.
ETE/Iriri
Para o gerente de operações da Águas de Penha, Vilmar Pereira da Silva Junior, de modo geral, a coleta e tratamento do esgoto contribui significativamente na melhoria da qualidade dos rios, lagos e mares. Isso se dá pois com tecnologia adequada, o efluente das estações de tratamento evita a contaminação e a transmissão de doenças causadas por bactérias, vírus e fungos presentes no esgoto bruto.
Durante o processo de tratamento que será realizado na ETE Iriri, o esgoto terá suas cargas de poluentes removidas e será devolvido ao corpo receptor em conformidade com os padrões exigidos pela legislação ambiental, contribuindo para o ambiente como um todo, a exemplo da qualidade da água do rio Iriri e das áreas adjacentes, a prática da pesca e a balneabilidade das praias, fomentando o turismo e contribuindo com a melhoria da saúde pública.
“A implementação das redes coletoras de esgoto em Penha irá garantir a coleta e afastamento do esgoto que atualmente é lançado muitas vezes irregularmente nas redes de drenagem pluvial, contemplando não apenas a bacia hidrográfica do Rio Iriri, mas de todas as bacias hidrográficas onde há a contribuição do sistema de drenagem pluvial, a exemplo da Lagoa do Quinca Ludo”, garante Vimar.
Saudade e esperança
O Má da Ivone, hoje com seus 67 anos, já sem a bicicleta Copa 70, vez por outra caminha pelos arredores da lagoa. Lembra dos domingos festivos, dos jogos no campo do Seu Quinca, da bola de couro costurada, da correria para pegá-la, da água límpida da lagoa, dos siris correndo para se esconder, das tainhotas pulando e também das tariobas e dos berbigões que as irmãs Vieira catavam.
Olhando para o que restou da laguna Má viaja no tempo, sorri, mas também expressa lamento. “Será que irei ver a revitalização da lagoa? Quando a população, órgãos competentes e o Poder Público irão olhá-la com carinho? Nossa porta de entrada de Penha poderia sim ser mais um atrativo turístico. Seria um lindo cartão de visitas. Algo tem que ser feito com urgência, antes que não seja tarde demais”, alerta o Má.
“Tenho saudade sim da lagoa que conheci na minha infância e juventude. Mas acredito que há soluções e que elas virão”, finaliza com esperança gandula voluntário do Seu Quinca Ludo, que ainda lembra do sabor do gasosão e dos mata-fomes.
Texto e pesquisa: Vilmar Carneiro
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